quinta-feira, 16 de junho de 2016

Evelyn Underhill, Mística e Mestre da Fé, 1941 - 15 de Junho

Evelyn Underhill, Mística e Mestre da Fé, 1941  - 15 de Junho


De um modo geral, eu entendo que (o místico) seja a expressão da tendência inata do espírito humano em direção a completa harmonia com a ordem transcendental; qualquer que seja a fórmula teológica sob a qual tal ordem é compreendida. (...) Eu acredito que este movimento representa a verdadeira linha de desenvolvimento da forma mais elevada da consciência humana. (Evelyn Underhill)

TEOLOGIA E ESPIRITUALIDADE ANGLICANA.



_____ Carta de Evelyn Underhill ao Arcebispo Lang, de Cantuaria, encontrada dentre seus documentos em 1930.
“Permita-me sua Graça:
1) Muito humildemente desejo sugerir, aos bispos reunidos em Lambeth que a necessidade maior e mais urgente que poderiam cumprir nos tempos presentes, para a renovação espiritual da Igreja Anglicana, seria a de um chamamento ao clero como um todo, solenemente e insistentemente a uma maior interioridade e cultivo da vida pessoal de Oração. As dificuldades de fato e as fraquezas da Igreja são de ordem espiritual e somente podem ser curadas por esforço espiritual e sacrifício. A necessidade mais profunda é a de uma renovação primeiro no clero e, através dele, no laicato... sobre a grande tradição cristã da vida interior. A igreja não precisa tanto de consagrados filantropos e sim de um sacerdócio disciplinado com almas teocêntricas. Eles serão as ferramentas e canais do Espírito Santo de Deus: estas coisas ela não conseguirá obter até que a comunhão com Deus seja reconhecida como o dever primeiro do sacerdote. Mas, sob as condições de hoje é tão difícil que, a menos que nossos pais em Deus, solenemente as exijam, os esforços e ajustamentos necessários não serão feitos. Com o desenvolvimento daquilo que é agora chamado de “Caminho de Renovação”, mais e mais ênfase tem sido feita na nutrição e aperfeiçoamento do intelecto e ... cada vez menos na nutrição e aperfeiçoamento da alma. Não minimizo a importância do lado intelectual da religião. Mas todos os que se comprometem pessoalmente com o trabalho religioso dentre os leigos não priorizam a tentativa de reconciliar teologia e ciência física e sim as coisas profundas do Espírito.
2) Olhamos para a igreja para que ela nos alcance uma experiência de Deus, do mistério, da santidade e da oração, mesmo que não possam resolver as antinomias do mundo natural, mas pelo menos nos deixem em contato com o mundo sobrenatural e nos ministrem vida eterna. Olhamos para o Clero em busca de ajuda e de crescimento espiritual. Raramente somos satisfeitos porque, com nobres exceções, falta-lhes realismo espiritual e são ignorantes das leis e das experiências da vida de Oração. Seus cristianismo como um todo é mais humanista que teocêntrico. Desta forma suas relações com as almas são quase sempre vagas e amadoras. Aqueles que necessitam de ajuda espiritual podem até encontrar alguma gentileza, mas dificilmente aquele que toque firme, e de primeira mão, de conhecimento dos caminhos interiores, que somente provém de uma vida pessoal disciplinada de oração. No Culto Público, frequentemente falham em evocar pelo espírito de Adoração ... porque não o têm dentro de si mesmos. Daí o caráter aborrecido de muitas celebrações da Igreja e o resultante afastamento dos leigos.
3) Deus é o que realmente interessa na religião ... e as pessoas estão famintas de Deus. Mas só um sacerdote cuja vida está embebida na oração, no sacrifício e no amor pode, pelo seu próprio espírito adorante, ajudar-nos a empreende-lo. Pedimos aos bispos... que declarem à igreja e especialmente aos seus Ministros, que o futuro da Igreja se prenda não tanto a este ou aquele tipo de teologia e doutrina e sim ao espírito de pobreza interior, castidade e obediência dos que foram ordenados. Por menos aparentemente recompensador e difícil, o cuidado pelo espírito interior é o dever primeiro de todo sacerdote. A renovação divina somente pode sobrevir através daqueles cujas raízes estão no mundo da oração.
4) AS DUAS coisas que os leigos querem do sacerdócio são o realismo espiritual e o amor verdadeiro pelas almas. É por este meio que todos os sucessos cristãos foram obtidos no passado e é a estas coisas que os seres humanos sempre conseguiram responder. Instantaneamente reconhecemos as liturgias e sermões que são expressões verdadeiras do interior sacerdotal em sua adesão a Deus e ao amor sacrificial das almas. É isto que nos alcança sempre uma experiência religiosa. Por outro lado, toda celebração rotineira, fria e mecânica (já que estas são muito mais frequentes do que os bispos imaginam, quando estão presentes ... e tudo sai mais bem feito ...) é uma oportunidade perdida que desacredita a adoração incorporada e refere de volta, a qualificação pobre e superficial da vida espiritual dos sacerdotes. Talvez seja útil recordar o fato humilde de que recentes perdas nossas para a igreja romana tenham sido declaradas pela falta de uma necessária espiritualidade que a Igreja da Inglaterra fracassou em satisfazer, enquanto que o surpreendente sucesso do Grupo Movimento de Oxford, dentre os jovens das classes educada, testemunha o amplo desejo por uma experiência de Deus irrealizada nos cultos comuns da Igreja. A história mostra que estes movimentos quase místicos dentre os leigos não florescem enquanto ao lado invisível da religião institucional é vigorosamente mantido.
5) Eu bem sei que a cura da vida interior ordenada, de oração e meditação, será muito difícil para clérigos profundamente imersos na rotina do trabalho. Ela exige uma rearrumação de valores e das atividades sociais. Eles não a acolherão a menos que sintam sua importância crucial. Este tipo de cura não será alcançado por “escolas de Oração” que mais estimulam a mente que o espírito. Mas a voz solene do episcopado unido, reconvocando a Igreja ao contato pessoal e verdadeiro com o sobrenatural ... que tem sido desde Pentecostes ... a fonte única de seu poder, dará apoio autorizado àqueles que desde já sentem a necessidade de uma espiritualidade mais profunda... e lembrará aos outros que a renovação de uma sociedade espiritual precisa depender da prioridade absoluta à vida espiritual.
6) Ouso apresentar a Conferencia de Lambeth, as seguintes recomendações praticas:
6.1 EDUCAÇÃO DOS ORDINANDOS. Que os bispos enfatizem a necessidade e importância de um treinamento devocional especializado, variado e interessante ... em nossas escolas teológicas... as quais, com poucas ou surpreendentes exceções, parecem dar atenção insuficiente à esta parte tão vital de eu trabalho.
6.2 O CLERO. Os Bispos devem exigir de todo clérigo aquilo que é parte de seu dever pastoral e não só o necessário por si mesmo: a) adotar uma REGRA DE VIDA que fixe um período diário de oração e leitura que alimente, pacifique e amplie sua alma... além de aprofundar sua comunhão com Deus. b) PRATICA DE UM RETIRO ANUAL. c) Usar toda oportunidade para fazer com que SUA IGREJA seja uma CASA DE VERDADEIRA ORAÇÃO e ensine ao seu povo, tanto pela exortação como pelo exemplo, a dela servir-se assim.
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ORAÇÃO:
“Ajuda-nos, Senhor a perceber quão pobres, sem forma e imperfeitas são as nossas almas, sempre sujeitas ao Teu amor, à Tua ação criadora, aqui e agora, e na correria de nossas vidas diárias, seus altos e baixos, suas ansiedades, tensões e temores, conflitos nada devocionais – aceitar-Te, em meio a estas coisas, suas formas e significação. Para que, em todos os acontecimentos de nossa vida, até nas mais comuns, experimentemos a Tua Presença, Artista Criador. Amem”. (Oração escrita por Evelyn Underhill).